É difícil começar a narrativa desta trilha. Em determinados momentos eu questionei minha decisão de percorre-la. Beirou a insanidade… Ai vai o relato.
No final do ano passado (2015) em uma conversa informal com pessoa de minhas relações, o Luis Fernando, comentou ter passado momentos agradáveis na Lagoa do Bacupari. Durante nossa conversa ao telefone, imediatamente já busquei na internet mais informações com relação ao local. Lá foi plantada a semente que no dia 1º de fevereiro de 2016 enfim germinou.
Parti logo cedo ás 6h da manhã. O meu plano, pedalar os 65 quilômetros de Tramandaí até a Estrada das Garças, para chegar na Lagoa do Bacupari. Calculei que levaria em torno de 4 horas para fazer o percurso. Pelo fato de estar pedalando na areia, pela beira da praia. (Obs. Em asfalto, 60 km faço em pouco mais de 2 horas). Saindo cedo evitaria o Sol.

“Misericórdia”, levei 5 horas e trinta minutos para percorrer estes malditos 65 quilômetros. Com o dia amanhecendo logo que entrei na faixa de areia da praia, rumando para o sul, percebi no rosto o sopro do vento contra… Não desanimei. Já passava pela praia de Cidreira quando o dia raiou em sua totalidade. Neste momento o vento pareceu se intensificar. Mas minha decisão estava tomada, eu prosseguiria a todo custo. As praias iam ficando para trás, Pinhal, Magistério, e passei por Quintão. Aqui mais um adversário se apresentou com toda sua fúria. A areia “fofa”.
Tentei pedalar próximo a linha do mar, tentei próximo as dunas, em toda a extensão da praia. Sempre havia um trecho de areia que enterrava o pneu da bicicleta, e freava meu deslocamento, me obrigando a desmontar e empurrar. Sempre acompanhado do vento contra. Pedalar acima das 15 km/h era uma alegria. Meu avanço era pífio, se comparado ao esforço que eu fazia.

E assim pelos próximos 30 quilômetros. Um batalha para cada quilometro vencido.
Deixando um pouco de lado minha luta para progredir. Interessante, observar somente após a praia de Dunas Altas uma faixa do litoral gaúcho com quase nenhuma pessoa. Todo o resto do trajeto se encontra diversas pessoas, pescando, passeando, “praiando”. Outra curiosidade, contei mais de 10 carcaças de tartarugas ao longo do percurso. Infelizmente algum erro ocorreu no meu smartfone, que não registrou todas as fotos da perna de ida. Lamentável o fato.

Voltando a batalha da trilha. Os últimos 15 quilômetros foram um verdadeiro suplicio. Não existia areia compactada que permitisse pedalar por mais de 500 metros. O Sol veio com toda a sua força. O vento era cruel e contra. Os constantes desníveis da areia. Mas desistir não era uma opção.
Enfim o GPS apontou a chegada na estrada das Garças. Agora bastavam mais 6 km em direção oeste. Iniciei o avanço nesta estrada. E outro golpe duro. A estrada nada mais é do que uma linha imaginária que cruza 6 km de dunas. Aqui parei para considerar as opções. Pesei o que passei e o que viria a passar no retorno, as condições adversas, inclusive fiz um vídeo neste momento. Ao finalizar o mesmo percebi diversos carrapatos grudados em minhas pernas ávidos por sangue. Foi a gota d´agua. Arranquei os bichos de minhas pernas e iniciei o retorno para Tramandaí.

Felizmente o vento agora era favorável. Porém a areia seguia a mais traiçoeira dos oponentes. Eu pensava somente em uma sombra que eu havia vislumbrado próximo ao Farol de Berta, que fotografei, mas a foto misteriosamente desapareceu da memória do smartfone.
Aqui nesta sombra almocei. Duas barras de Kit-kat e um litro de achocolatado.


Prossegui voltando, porem não foi fácil. O sol já deixava marcas em minhas pernas e mãos desprotegidos.
Em Cidreira, uma nova parada longa. Parei numa sobra da guarita 177, olhando a plataforma e os 20 km que me separavam de Tramandaí, destino final. Foi difícil, muito difícil estes quilômetros finais. Porém venci.

Não recomendo essa aventura. É por demais penosa. Se for fazer, escolha outra estação que não o verão. Eu não faria novamente, a menos que houvesse um premio milionário por concluir a percurso.
Parece mais um desabafo que a descrição de uma trilha. Enfim, em outro momento vou conhecer esta lagoa, mas não sei se vai ser pedalando.
RESUMO |
133 Km Pedalados |
9h09 Pedalando |
2h02 Parado |
3330 Calorias queimadas |
Dificuldade: Difícil / Insano |
clique no mapa para o track GPS |
Observações finais:
A maior motivação para pedalar na areia foi a possibilidade de não utilizar o capacete.
Se eu prosseguisse na Estrada das Garças, seria caso de internação…
Eu sei que o perfil do pneu da minha bicicleta não é apropriado para andar na areia. Enquanto não tenho um patrocínio que permita adquirir diferentes bicicletas para diferentes usos, a atual vai ter que aguentar o tranco.
Você não imagina a alegria de ver a plataforma de Tramandaí, que sinalizava o fim da jornada…
Parabéns, reuniu uma série de informações que eu procurava. Até breve!!!!