POA (RS) – Mariana Pimentel (RS) – Cascata do Chicão – Pedra Equilibrada (BIKE)

Este post vai ser longo… longo como foi este dia… como foi a pedalada…

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Pedra Equilibrada em Mariana Pimentel

Parti bem cedo, um pouco depois das 6h da manhã, já busquei a rua, em direção ao píer (Barra Shopping) do catamarã, que faz a travessia de Porto Alegre (RS) para Guaíba (RS). Cheguei um bom tempo antes das 07h12min, o horário previsto para o embarque. Fiquei ali sozinho, até próximo das 7h da manhã, quando chegaram outras pessoas que também tinham se programado para fazer a travessia no primeiro horário. Isto fez minha apreensão diminuir, com relação a possibilidade do catamarã não parar neste ponto para o meu embarque.

Para minha grande surpresa, exatamente ás 7h12min o catamarã surgiu, navegando pela ponta do estaleiro. Fiquei mirando a embarcação, aguardando sua proa apontar para o píer. Qual não foi minha grande surpresa quando esta seguiu em direção a Guaíba, sem fazer qualquer movimento que indicasse que iria atracar e pegar os passageiros que por ela aguardavam… Literalmente, fiquei a ver navios…

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Bilhete da passageira que obrigou o catamarã a fazer a escala no Barra Shopping.

Eu poderia ficar descrevendo a minha irritação com o descaso da empresa Ouro e Prata / CatSul, mas vou resumir o desfecho. Felizmente uma das pessoas que aguardavam para fazer a travessia, havia comprado o bilhete com antecedência, e o cônjuge desta pessoa a aguardava em Guaíba. O cônjuge foi pessoalmente na empresa CatSul (em Guaíba) e exigiu que fôssemos resgatados “imediatamente”. Isto ocorreu com quase 1 hora de atraso. O catamarã fez um desvio para que o nosso embarque ocorresse e uma pessoa da empresa veio pedir desculpas, pois exatamente neste dia, sem comunicação prévia da empresa, foram alterados os horários que o catamarã faria escalas no píer do Barra Shopping. Que fique claro que o serviço de transporte é muito bom, mas a comunicação da empresa com os seus clientes e inclusive internamente, a nota é zero, pois eles haviam programado a mudança de horário, e mesmo assim no dia anterior venderam passagem para um horário que seria extinto… Eu que havia visto no dia anterior os horários das viagens do catamarã na internet, me programei com a informação publicada no site, que em nenhum momento informava da mudança programada para o dia seguinte… Fica a dica, quando for fazer esta travessia, faça a mesma saindo do porto (no centro histórico), é maior a chance de você não ficar a ver navios…

Saindo da cidade de Guaíba, asfalto, a estrada até o ponto PE04, é com um generoso acostamento, cujo estado é satisfatório para pedalar. Cruzei com diversas carcaças de tartarugas em um trecho do acostamento. Lembrei da minha última jornada tentando chegar no Bacupari, onde também vi muitas carcaças de tartarugas. O ponto PE04 é onde realmente começa a “aventura”. Não existe nenhuma placa, inclusive este não é o caminho indicado para chegar na cidade de Mariana Pimentel. Porém foi o caminho mais curto que eu tracei para chegar lá.

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Generoso acostamento
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Ponto PE04

A estrada de terra é multifacetada. Trechos lisos e planos. Trechos com cascalho solto. Muitas lombas, subidas e descidas. Como sempre minha previsão de fazer os 100km programados em pouco mais de 5h se mostraram erradas.

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Estrada com trecho de sombra
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Trecho ensolarado

Se você tentar fazer esta trilha, atenção. Eu me considero um bom navegador. Diferente do padre que morreu no mar quando tentou cruzar os céus preso em balões de gás e portando um GPS que ele não sabia operar. Eu, com um GPS operacional na mão, dificilmente passo por apuros. Nunca havia me perdido da forma como ocorreu desta vez. Lembro de uma única vez, quando eu estava aprendendo a lidar com o GPS, em uma travessia em barco a vela de Tapes para Porto Alegre, plotei os pontos de forma displicente, e quase naufraguei na altura da ilha do Barba Negra. Mas isto é assunto para outro post, quem sabe um dia conto esta história, que esta guardada lá no passado, no fundo da memória.

Voltando ao meu erro, o ponto “ERREI”, indica onde eu entrei. Eu deveria ter feito a curva 300 metros depois deste ponto. Porém minha “soberba” não me fez verificar o GPS atentamente, alterar a escala. Na certeza que teria de dobrar a esquerda para chegar no ponto PE05, entrei numa fazenda de eucaliptos. Não havia porteira ou placa, parecia uma estrada. Fui perceber que estava perdido depois de percorrer 30 minutos nesta propriedade. Fiquei “perdido” por 1 hora, percorrendo 6 quilômetros. Durante o meu tempo perdido, tive um pneu furado, e enquanto fazia o conserto, passou por mim uma boiada. Para sair desta situação plotei no GPS a estrada mais próxima e fui reto por entre o “mato”. Minha surpresa. Cheguei ao lado da estrada. Porém uma gigantesca cerca de arame me separava dela. Me senti um imigrante ilegal, tentando entrar no U.S.A. tendo que enfrentar o muro do Donald Trump. Felizmente o mesmo boiadeiro que cruzou comigo levando o gado anteriormente, apareceu por outro caminho, e me indicou a direção de uma porteira. Plotei o ponto “ACHADO”, voltei para o bom caminho.

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Trecho percorrido sem necessidade.
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Dentro da floresta, “perdido”
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Andando no mato
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Cerca de 2m, “anti-imigrante”, ao lado da estrada. Tão perto e tão longe.
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Pneu furado
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Boiada

DICA – Compre um GPS. Aprenda a usar o GPS. Certifique-se ao longo do seu deslocamento, nas mudanças de direção, se você esta no caminho certo.

Depois disso, para todas as bifurcações, chequei exaustivamente o GPS para me certificar estar no caminho certo.

Segui rumo à cidade de Mariana Pimentel. O trajeto é de uma beleza ímpar. O maior problema é o relevo do terreno. Muitas subidas pronunciadas. O Sol de verão castiga o corpo que tenta vencer a lomba. Próximo ao ½ dia, uma pequena pausa para lidar com uma indisposição intestinal. Hoje nada vai me separar de alcançar meu objetivo. Hoje é “Jihad do pedal”, entrei no modo extremista. Falhar não é uma opção. O meu maior receio era perder o último catamarã para Porto Alegre… Mas nem isso me fez desistir.

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Sofri a primeira queda do dia. Parei numa sombra. Deixei o pé esquerdo preso ao pedal e o pé direito apoiado no solo. Fui pegar a garrafa grande de água na mochila. Um pequeno desequilíbrio ocorreu, e BUM. Cai em câmera lenta. Sem maiores danos. Que papelão. Não deveria nem contar isso.

Depois de muito batalhar, cheguei em Mariana Pimentel. Uma pequena cidade. Sem demora, tomei o rumo do meu primeiro objetivo. Cascata do Chicão. Chegar lá, estando em Mariana Pimentel, é barbada. Siga o ponto “CASCCHIC”. Lamentavelmente a prefeitura desta cidade não percebe o potencial turístico da região. Existem poucas placas indicando os pontos de interesse turísticos.

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Observe a entrada da trilha que leva para a cascata. É uma cerca. Para quem já cruzou meio mundo, não é um arame que vai me fazer parar. Avancei e coletei meu primeiro prêmio. Um revigorante banho de cachoeira gelada em modo naturista.

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Entrada da trilha da cascata
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Modo naturista ativado
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Cascata do Chicão

Sem demora me recompus e segui adiante para coletar meu segundo prêmio. A pedra equilibrada. Apenas alguns quilômetros adiante, busque o ponto “PEDRA EQUILIBR”. Novamente falta indicação para chegar ao local. É preciso pular uma porteira, ou passar entre fios de uma cerca eletrificada. Aqui não registrei fotograficamente a porteira / acesso, o motivo, a preocupação em perder o último catamarã do dia para POA.

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Sol, Céu, Sul
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Perfil do relevo do trajeto

Passei pela cerca com aval do dono do terreno. Sim a pedra parece ficar em terreno particular. A foto não traduz com precisão o tamanho desta pedra. Parece pequena. Aconselho a ir ver pessoalmente. É uma pedra muito grande. É intrigante observar como ela se equilibra.

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Levei incríveis 8h21 minutos para chegar no ponto mais distante da trilha. Contando com o atraso do catamarã e meu erro de navegação.

Coletei mais este prêmio, e iniciei meu retorno. Desta vez o relevo estava a meu favor. Cheguei rapidamente em Mariana Pimentel. Parei no único mercado que estava aberto. Junto a ele ficava a rodoviária. Questionei com relação ao horário do próximo ônibus para Porto Alegre ou Guaíba. Isto ocorreu as 15h10. O próximo ônibus partiria apenas as 17:30 para Porto Alegre. Questionei o cobrador, o valor da passagem era R$18,20. Meu orçamento de R$30,00 permitia fazer esta viagem. Pensei por 6 minutos, comprei duas garrafinhas de um suco industrializado e uma barra de chocolate. Decidi seguir pedalando.

Algumas subidas ainda era preciso vencer. Sempre que eu sentia alguma fraqueza, tomava um gole de suco gelado, isso a cada 2 ou 3 quilômetros. Revigorante. Até que, uma segunda queda ocorreu. Em decorrência de uma câimbra absolutamente infernal. Como sempre na panturrilha esquerda. Foi paralisante. Me joguei no chão no meio da estrada de terra. Urrando e massageando a perna. Nesse meio tempo parou junto a mim um carro, um dos poucos que cruzou meu caminho. Uma vez que eu estava atravessado no meio da estrada. O motorista questionou o que houve. Expliquei a situação. Ele me aconselhou a “pegar leve”. Ele ficou me olhando, não sei se queria me oferecer uma carona, ou questionando minha sanidade. Ele não ofereceu a carona e eu não a solicitei. Sai do caminho dele e cada um seguiu o seu ritmo.

Sentia pequenas câimbras nas pernas. Felizmente nenhuma tão forte quanto a que me derrubou antes. Não parei mais. Cada quilometro avançando era motivo de grande comemoração. Quando finalmente acabou o trecho de chão batido, e retornei para a estrada asfaltada, muita alegria tomou conta do meu espírito. Faltava pouco mais de 12 quilômetros para Guaíba. Acelerei o pedal. Consegui manter boa velocidade por pouco mais de 5 quilômetros. E então uma pequena subida… e acabou o gás. “Caiu o disjuntor”. Desmontei da bicicleta. Senti a força acabar. O sinal era claro. Faltava açúcar no sangue. Busquei a barra de chocolate adquirida em Mariana Pimentel, e devorei metade dela. Foi a primeira substancia sólida consumida durante todo o dia. Empurrei a bicicleta lomba acima. Guaíba cada vez mais próxima.

Felizmente a volta, levou apenas 5h30min. Não consegui embarcar no catamarã das 18h25. Ás 18:50 comprei a passagem para as 19:35. Fui para o bar dentro da estação de embarque do catamarã, juntei o que restou de recursos financeiros e consumi tudo que foi possível dentro da minha limitação orçamentária.

Após a travessia, percorri os últimos 5km, para enfim encerrar a jornada em casa. Esgualepado, mas sorrindo.

 

RESUMO

133 Km Pedalados *já descontados os trajetos catamarã

10h00 Pedalando *já descontados os trajetos catamarã

3h47 Paradas intercaladas

4522 Calorias queimadas

Dificuldade: Difícil / Insano

clique no mapa para o track GPS

PEQ_MAPA

 

 

Comentários finais…

Levar mais do que apenas uma câmara de reserva. Se o pneu furasse outra vez, eu estaria literalmente em sérios apuros.

Orçamento. Contava apenas com 30 reais. Erro, é preciso levar um pouco mais, quando o percurso é longo. Vou considerar levar o cartão do banco também.

Sai de casa com 2 litros de água, e 2 litros de achocolatado. No caminho, solicitei mais 2 litros de água. Comprei duas garrafinhas de suco industrializado e uma barra de chocolate. Foi tudo que consumi durante este dia.

Meu erro de navegação não me permitiu visitar uma segunda cachoeira.

Pense em talvez ir de carro até Mariana Pimentel e de lá fazer uma trilha reduzida. Para quem não aguenta pedalar grandes distâncias, fica a dica.

Em uma próxima vez em que eu cruzar com uma tartaruga morta, vou dar meia volta e abandonar o pedal. Vou considerar isto um sinal de mal presságio. Ou não.

 

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4 thoughts on “POA (RS) – Mariana Pimentel (RS) – Cascata do Chicão – Pedra Equilibrada (BIKE)”

  1. Que legal! Eu morava em Mariana Pimentel. Agora moro em Barão do Triunfo, onde também tem belas cachoeiras. Poderá vir de ônibus e depois fazer alguns km de bicicleta.

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